segunda-feira, janeiro 17, 2005

 

Resposta tardia

Num teu post anterior, criticando a axiomática do consumidor, disseste que a transitividade não se aplicava a ti. Deste um exemplo:"eu prefiro cerveja a vinho e perfiro vinho a vodcka, mas não perfiro, como mandaria a transitividade das preferências, cerveja a vodcka."Eu perguntei-te, e tu não respondeste:"Então se tiveres um copo de cerveja, um de vodka e outro de vinho à frente (e apenas podes beber um, pois o teu dinheiro não dá para mais e o empregado do Bar recusa-se a fazer misturas), tu suicidas-te? Ficas a olhar para os copos?Esperas que alguém decida por ti?Comes amendoins, que preferes a tudo o resto?"Na altura não respondeste. Confesso que estou curioso em saber a resposta.
# posted by Luís Aguiar-Conraria : 17:16

Questão interessante. Acho que me armaria em maluco e escolhia o que fosse que me desse na real gana na altura, o que mais me apetecesse. Se a indecisão fosse muita poderia sempre fazer o pim-pam-pum-cada-bala-mata-um...

Comments:
Muito obrigado pela resposta. Vejo que o teu problema com a axiomática do consumidor é pessoal e não generalizável ao resto da população. Duvido que haja muita gente que tenha tanta dificuldade em escolher entre três produtos.

Penso que será justo concluir que se a transitividade é o principal problema que vês com a axiomática do consumidor, então esta é bastante robusta.
 
"Duvido que haja muita gente que tenha tanta dificuldade em escolher entre três produtos"

Com o devido respeito, não será bem assim.Tenho consciencia que sou uma "ave rara", mas não tão rara quanto isso. Sugiro uma field trip às lojas de roupa neste período de saldos.
 
Já fiz várias. Qual é o problema? Os clientes ficam a olhar para dois produtos sem saberem o que escolher? Apenas revela que estão indiferentes entre dois produtos, ou quase indiferentes. Que é que isso tem a ver com a lei da transitividade?

Uma observação que confirmasse a tua teoria seria alguém olhar para umas calças e uma camisa e escolher a camisa. Depois de comprar a camisa concluía que prefere um casaco, pelo que devolvia a camisa e pedia o casaco.

De seguida descobria que prefere as calças ao casaco e devolvia o casaco, levando as calças. Imediatamente dava conta do erro e devolvia as calças e pedia a camisa.

Pode ser que te comportes assim (tu lá sabes...), mas garanto-te que a grande maioria das pessoas não tem esse tipo de preferências.
 
Temos vivencias completamente diferentes, estou bem a ver.Um comportamento como o que descreveste (ou semelhante) já eu observei n vezes. Talvez seja de ter um particular gosto em observar as dinamicas que se geram nas lojas de roupa.Fetiche, sei lá.O facto é que comportamentos desses não os acho nada raros, ainda anteontem...( e mais não conto sob pena de ser fortemente castigado ;) )
 
Tão entusiasmado fiquei com a tua resposta que me nem reparei que havia posts novos.

Ao ler o post do Beijinhodorosario fico a saber que em Lisboa quando os preços sobem a procura aumenta. Imagino que os gestores em Lisboa sejam uns grandes incompetentes, então se podiam aumentar os preços e com isso subir as vendas imaginem os lucros... Fico então sem entender porque não sobem ainda mais os preços em Lisboa.

Fico também a saber que o jsilvestre não se consegue decidir entre três bebidas diferentes e, pela sua reacção, que a namorada/esposa/alguém próximo, não se consegue decidir entre três peças de roupa, não porque esteja indiferente (ou quase) entre as três, mas sim porque prefere as camisa às calças, o casaco à camisa e as calças ao casaco.

Realmente temos vivências diferentes. Espero que ao menos a lei da gravidade se aplique aí na capital. Apesar de cultivar a dúvida, há certas coisas que eu gosto de ter como certas.

Muito obrigado pela paciência revelada a responder-me.

Luís

PS A letra de Sérgio Godinho que escolheste é excelente. Cantada ainda é melhor. Quando for aí a Lisboa contacto-te para umas trocas musicais.
 
"Espero que ao menos a lei da gravidade se aplique aí na capital. Apesar de cultivar a dúvida, há certas coisas que eu gosto de ter como certas"

Tocaste no cene da questão. No dominio da Economia lidamos com pessoas.As pessoas tem essa caracteristica chata de serem extremamente subjectivas. Estão cheias de manias, inconcruências, inconsistências e idiossincrasias.Tantas que me levam a mim e tantas outras (mais do eu e umas tantas pessoas chegadas a mim, isso garanto-te) pessoas a terem comportamentos que vão contra as "leis" da economia.
Penso que é algo que devemos ter sempre presente.Simplesmente não podemos equiparar as leis da Economia (ou de quelquer outra ciência social) às Leis da física.Esse para mim é o grande problema do desenvolvimento cientifico da Economia.
Claro que aceito que é necessário simplificar as coisas para termos um minímo de operacionalidade mas, por isso mesmo, como referi no post inicial, é necessário por as coisas em prespectiva.É justamente por isto que compreendo a crítica que o Beijinho aqui fez ao agente representativo.Entre outras coisas.
Agora não penses que eu e quem comigo se dá somos uns esquesitoides. Eu pus a situação que motivou o comentário na primeira pessoa, mas podia ter usado o subterfúgio de "um joão qualquer".Vai dar ao mesmo.O axioma da transitividade vem da lógica e a realidade, quase nunca segue a lógica.
Fico à espera que regresses a Lisboa para essas trocas musicais, e não só.
 
beijinhodorosario
Essa do Condorcet não percebi. Se bem me lembro, e sei que posso estar errado, o Condorcet mostrou que as votações por maioria não tinham a transitividade como propriedade. Mas isso não está relacionado com a axiomática do consumidor que é algo que se aplica a um indivíduo. Se estou errado agradeço que me digas (estou a ser sincero e não irónico, como é óbvio).
 
Suponhamos que temos três eleitores e três opções. As preferências são descritas por:

agente 1: A>B>C
agente 2: B>C> A
agente 3: C>A> B

Leia-se x>y como o agente prefere x a y.

Votação entre A e B
A ganha. Logo para a colectividade A>B.

Votação entre B e C
B ganha. Logo para a colectividade B>C.

Votação entre A e C
C ganha. Logo para a colectividade C>A.

Temos então A>B>C>A. Ou seja, as opções da colectividade não gozam da transitividade, pelo menos quando a escolha é feita por maioria.

Penso ser esta a contribuição de Condorcet. Contribuição teórica, portanto. Mas como estou a dizer isto de memória posso estar a confundir autores. Quando tiver tempo dedicarei um post a este tema.
 
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