domingo, janeiro 16, 2005

 

Sudão e Sudoeste Asiático

Toda a gente tem visto nestas últimas semana imagens de tragédia que assolou o sudoeste asiático, a fantástica onda de solidariedade vinda da população mundial e dos governos, o alívio da dívida aos países afectados. É de salutar a resposta imediata (se bem que ainda não transferida para as Nações Unidas e neste campo sou sempre optimista…) dos países do ocidente, onde Portugal se insere.

Acho importante, no entanto, salientar o facto do mundo ocidental ignorar calamidades que podem ser prevenidas e nada ou pouco é feito. Tal foi o caso do Ruanda e agora do Sudão. Poderemos inclusive fazer a pergunta: como é possível que desastres humanitários que podem ser prevenidos não têm tanta solidariedade? E fiquem sabendo que devido a este conflito de Darfur já morreram 70.000 pessoas e que se espera que morram muito mais que as mortes provocadas pelo tsunami. Parece que para já as vítimas do tsunami têm concentrado toda a atenção.

Esta negligência da parte do mundo ocidental é exemplificada pela oposição da China e da Rússia à resolução do Conselho de Segurança, muito provavelmente pelos interesses do petróleo no Sudão. Acrescentando a isto, já repararam que as Nações Unidas suspenderam o fornecimento de alimentos dos quais dependem cerca de 260.000 pessoas!!!! Imaginem só as dimensões da tragédia a curto prazo que se adivinha…

Isto leva-me para um outro tópico… o de criar condições para que outros países se desenvolvam e o papel das relações comerciais para a constante democratização dos países. Este é o caso da China, onde estou seguro que o crescente desenvolvimento económico e a intensificação das relações comerciais trará a democratização.

Como diz a nossa querida Margaret Thatcher “make trade not aid”. Para isso temos que acabar com os desvios de comércio que por exemplo a Política Agrícola Comum (PAC) é um exemplo crasso. Recomendo o livro “A Arte de Bem Governar”.

O mercado é indispensável para a prosperidade. Deixem-no funcionar livremente.

Comments:
Concordo perfeitamente contigo quando dizes que se deve deixar o mercado funcionar livremente. Contudo, não nos podemos esquecer que foi esse mesmo mercado (à escala global) que originou a deterioração dos termos de troca e o afastamento doas países do Sul face aos países mais desenvolvidos do Norte, pelo que o desenvolvimento dos primeiros exige uma cooperação organizada e determinada à escala mundial. É aqui que as organizações internacionais devem demonstrar todo o seu poder negocial e não somente a resolver crises depois destas terem ocorrido! A ONU afirma-se como preponderante, mas a meu ver precisa de ser reestruturada, perante a crescente afirmação da NATO (não é que eu tenha nada contra a NATO!!!) em missões de carácter humanitário.
E porque falamos de pessoas que passam por sérias dificuldades (sejam originadas pelo Homem ou pela Natureza) há que ultrapassar essas adversidades e (re)construir as estruturas (físicas e técnicas) que permitam o crescimento desses países. Neste momento, países como os do sudeste asiático podem apenas seguir os príncipios de uma boa governação, mais política do que económica, dado o seu estado de devastação. Não me parece que sozinhos e entregues ao sistema de mercado consigam, pelo menos no curto-prazo.

À luz de um comportamento individualista e maximizador, a ajuda pública poderá ser completamente desajustada. O bem-estar individual não passa necessariamente pelo bem-estar dos individuos afectados.

AINDA BEM QUE A HUMANIDADE NÃO SE REGE APENAS POR PRINCIPIOS VIRTUAIS E MODELIZÁVEIS QUE SUPORTAM IDEIAS COMO A DE UM homo economicus.
 
Devo começar por dizer que as vitimas do tsunami têm captado toda a atenção, porque foram atingidos muitos cidadãos ocidentais. Existirá certamente outras razões, mas penso que esta é de extrema relevancia.

Quanto à ajuda humanitária, esta é crucial para muitos países e devia, por isso mesmo (em alguns casos) seguir o famoso provérbio chinês: "não dês um peixe a quem tem fome, ensina-o a pescar". Obviamente que isto vai contra os objectivos dos países desenvolvidos que querem que os países em vias de desenvolvimento necessitem sempre da sua ajuda.

Não acredito que a China venha a tornar-se democrática com a troca, por várias razões. Mas pondo-me na pele de um Chinês, que o seu país passa da cauda da economia mundial para uma das economias mais promissoras e poderosas do mundo, para quê mudar? Liberdade de expressão, direitos humanos etc.. Cada uma destas razões chegava, mas devido à troca "per se", não me parece. Até porque ao compararem-se com a Rússia que recebeu orientações e ajuda do Ocidente na sua transição, vêm o resultado que deu.

Por ultimo, a economia Chinesa não sendo uma economia de mercado (pura) está-se a tornar mais próspera que muitas economias que o são.
 
Gostava que explicasses melhor como é que o comércio livre (que provocou as consequências já referidas nos comentários anteriores) incentiva a democracia...

P.S - não te esqueças de explicar porque motivo aquando da criação do MERCOSUL na América Latina foram depostos pela força das armas todos os regimes democráticos então vigentes...
 
Estou contente que este assunto tenha gerado alguma controvérsia e folgo em ver os vossos posts. Gostei das vossas perguntas mas se começasse a responder a todas, o que daria um grande prazer, nunca mais saia daqui, no entanto tento focar os pontos que eu acho mais pertinentes.

1. O free market, ou seja sem proteccionismos, seria a melhor maneira para garantir condições de desenvolvimento dos países menos desenvolvidos. O volume de ajuda financeira é muito inferior ao valor que se destina simplesmente aos desvios de comércio e taxas. Mais, isto provoca que os preços dos produtos a nível global sejam superiores, ou seja o consumidor final, devido às tarifas alfandegárias devido a politicas proteccionistas passa a adquirir bens de consumo. Caso se verificasse, iniciar-se-ia um processo de criação de riqueza nesses mesmos países e uma melhoria económica no globo.

2. A troca comercial e a consequente abertura da economia e do país ao exterior força a que os chineses em geral contactem cada vez mais com sistemas democráticos. O facto de em geral as famílias chinesas começarem a ter melhor nível de vida e portanto poderem ter mais educação vai permitir que sociologicamente as pessoas comecem a pensar nisso cada vez mais. Creio que será inevitável num futuro que não se adivinha próximo a maioria dos chineses tenha conhecimento das vantagens que a democracia lhes traz. Se se estudar um pouco sobre a história da china, estou perfeitamente convicto de que isso é esperado. A maior parte das ditaduras subsistem através da ignorância da população.

3. O modelo que a Thatcher implementou é usado pela esmagadora maioria dos países com uma administração pública ineficiente. É até adaptado por partidos chamados de centro esquerda, que tradicionalmente teriam posições opostas, mas na essência as estratégias são as mesmas (mas chamam-lhe coisas tipo Third Way,que é uma desculpa para liberalizarem). É um modelo que deu os seus resultados em termos de performance económica. Está provado!!!! Sinceramente gostava que alguém tivesse essa coragem em Portugal... É lógico que tem que se despedir pessoas na Administração Publica, e isso cria desemprego… Mas tão necessário… Não percebo como é que pessoas que estão sempre a criticar a ineficiência do sector público e não percebem que há pessoas a mais… olhem para o estudo…Com uma administração pública mais eficiente, maior produtividade, mais criação de emprego... Por exemplo com a actual administração criar uma nova empresa demora um carradão de meses...
 
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